sábado, 6 de fevereiro de 2010

Juventus de Turim dos anos 70 e 80 - a melhor equipe de futebol que vi atuar

Acompanho futebol desde a final do Campeonato Mineiro de 1977 entre Atlético e Cruzeiro. Esta partida é a que vem na minha mais remota memória.
De 1977 pra cá, vi grandes equipes de futebol. Mas a Juventus dos anos 70 e 80, é sem dúvida alguma a que mais admiro, principalmente pois numa época teve o melhor jogador que já vi atuar, o francês Michel Platini.
Neste período, La Vechia Signora, como é conhecida a equipe da Juventus de Turim conquistou: seis Campeonatos Italianos (76/77, 77/78, 80/81, 81/82, 83/84, 85/86), duas Taças da Itália (78/79, 82/83), uma Taça dos Campeões Europeus (84/85), uma Supercopa da Itália (83/84), uma Taça UEFA (76/77), uma Supercopa Europeia (84/85) e uma Taça Intercontinental (1985).
O ciclo de domínio da Juventus gerado a partir de meados dos anos 70, inicia-se, em 1975, num pequeno hotel da auto-estrada Milão-Turim, local onde Boniperti se reúne com Trapattoni -então jovem técnico que acabara de iniciar a carreira no Milan - e vislumbra nele o treinador ideal para devolver os dias de glória ao lendário clube bianconero. Para qualquer estudioso do futebol italiano, Trapattoni é, por definição, um símbolo da velha escola transalpina, dogmaticamente defensivista e profeta do Catennacio. Analisando o seu perfil, pode-se concluir, no entanto, que a obra da raposa de Cusano, discípulo directo de Nereo Rocco, vai muito para além dessa definição simplista. A sua carreira no banco da Juventus é a prova disso.
Num tempo em que as fronteiras do Calcio estavam fechadas a estrangeiros, Trapattoni forma uma equipe que, sem grandes estrelas, vale sobretudo pelo seu caráter lutador, taticamente esquematizado em 4x3x3, mas sem um meio campo clássico, papel que, nas épocas anteriores, fora desempenhado por um nº10 chamado Fabio Capello. Sublime condutor de homens, Trapattoni transforma simples jogadores em grandes campeões. No meio campo, tornou Tardelli, antes apenas um mediano lateral esquerdo, num médio de grande nível, regendo, a partir da frente da defesa, um meio campo de grande poder atlético, onde também estavam Furino e Benetti. No centro da defesa, chefiada pelo libero Scirea, um patriarca, inventa dois poderosos centrais de marcação: Morini, excelente no homem-a-homem, e Brio, o gigante. No flanco esquerdo, fez do jovem Cabrini, então em inicio de carreira, um lateral esquerdo ofensivo, em pouco tempo também titular de selecção. No ataque, Causio era o extremo direito, e, como, dupla atacante, surgia um poderoso avançado centro, Boninsegna e um goleador mortífero Bettega, que também se infiltrava pelas alas, exímio no jogo de cabeça. Os três combinavam na perfeição. Pela primeira vez na história, a Juventus conquista uma competição europeia, a Taça UEFA, em 77. Na garra demonstrada nessa histórica conquista, sob a chuva torrencial de Bilbao, estava todo o carácter imposto por Trapattoni. A sua Juve lutadora torna-se no bloco da seleção, nove jogadores, que disputa o Mundial-78: Zoff, Boninsegna, Gentile, Scirea, Causio, Tardelli, Bettega, Cabrini e Fanna.
A reabertura das fronteiras permite a Trapattoni refinar a sua equipe, resgatando, um meio campo clássico, o tal nº10 capaz de, só ao tocar na bola, dar maior classe ao setor. O primeiro eleito é o irlandês Liam Brady, contratado ao Arsenal. Taticamente, mantém-se o 4x3x3, mas, sem Bonisegna, o ataque, privado do seu principal elemento, adquire um estilo mais dinâmico, com Virdis e Galderisi abertos nos flancos, trocando constantemente de posição, apoiados por Fanna e Marocchino, tentando servir, na área, o perigoso Bettega. No Mundial-82, a sua Juve volta a formar o bloco base da selecção campeã do mundo com seis jogadores: Zoff, Gentile, Cabrini, Scirea, Tardelli e, face à lesão de Bettega, Paulo Rossi.
A contratação de Michel Platini, em 82/83, ao mesmo tempo de Rossi, o goleador do Mundial-82, e do fabuloso médio polaco Boniek, transforma a Juventus numa orquestra de luxo. A equipe perde o velho espirito lutador dos primeiros tempos, mas ganha maior classe e beleza futebolística, sempre regida por monsieur Platini. Era um onze deslumbrante, ao qual se juntaria, depois, o dinamarquês, Laudrup. Na defesa e no meio campo, Scirea, Cabrini e Tardeli, continuam a assegurar a mística bianconera. Apesar da constelação de estrelas esta é, no entanto, a mais defensiva Juventus da era Trapattoni, que, para dar maior coesão colectiva ao onze, recua de 4x3x3 para 4x4x2, exibindo muitas vezes, para desgosto de Platni, uma postura demasiado conservadora, à espera de uma falta cobrada em folha seca ou de um cirúrgico passe em profundidade de 30 metros do mago gaulês para resolver os jogos mais complicados. Nesse sistema, porém, atinge duas finais da Taça dos Campeões Europeus e ganha uma, na tragédia do Heysel, frente ao Liverpool, em 1985. No final da época 85/86, dez épocas depois da sua chegada, Trapattoni abandona a Juventus. A alquimia dos títulos mudara-se para Milão.

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