quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ricardo Semler - O Ídolo da Minha Profissão

Ricardo Semler foi responsável por grandes inovações nos modelos de Gestão, idealizadas e implementadas na prática em sua própria empresa, a Semco, que desde então tem servido como benchmark para outras empresas no Brasil e em todo o mundo. A forma com que introduziu suas novas – e bem sucedidas – idéias para conduzir os negócios fez com que se tornasse um expert internacionalmente conhecido na área de Gestão de Mudanças Organizacionais.
O livro que escreveu descrevendo a sua filosofia administrativa, ‘Virando a Própria Mesa’, permaneceu na lista dos mais vendidos do Brasil por mais de 4 anos e chegou à 46ª edição. Com um novo título para distribuição nos Estados Unidos, ‘Maverick: The Sucess Story Behind the World´s Most Unusual Workplace’, a obra também tem influído no debate de negócios em todo o mundo. Maverick foi publicado em 16 idiomas, incluindo japonês e chinês, e vendeu mais de 1,1 milhão de cópias, chegando à condição de best-seller no Reino Unido, Austrália, França, Suíça, Áustria e Holanda.
Do mesmo modo, o primeiro artigo de Semler na Harvard Business Review, ‘Managing Without Managers’, provocou intensas discussões entre altos administradores do mundo inteiro e tornou-se um dos artigos com mais pedidos de reimpressão. A sua nova obra, ‘The Seven-Day Weekend’ foi publicada recentemente com sucesso na Europa e será publicada no Brasil e Estados Unidos em 2004.
O perfil de Semler já apareceu em mais de 200 revistas e jornais, incluindo The Wall Street Journal, Financial Times, Fortune e Time Magazine.
Semler tem proferido palestras a executivos do mundo inteiro.

• Por que atualmente a estrutura de trabalho em muitas empresas é obsoleta, gerando frustração e falta de progresso
• Como gerar sucesso através de idéias não-convecionais
• Como motivar os funcionários através do seu desenvolvimento
• Como dirigir a sua empresa de uma maneira mais humana, entusiástica e esclarecida
• Como transformar uma gestão paternalista em uma gestão do futuro, sem causar choques culturais e prejuízos à empresa
• Como administrar a flexibilidade para que ela gere lucros e não vire um transtorno organizacional
• Como balancear a vida pessoal e profissional
• A revolução da sabedoria: liberdade, democracia e uma nova maneira de viver
• Visitando o futuro


ERA UM ESCRITÓRIO MUITO ENGRAÇADO, NÃO TINHA MESA...

Um espaço descontraído, sem divisórias, sem mesas, sem paredes. No lugar disso, salões, sala de estar e um jardim de inverno. Quem quiser, pode trabalhar num ambiente assim. Desde que seja empregado da SEMCO.
Na entrada, há um espaço parecido com uma copa. Nele, as pessoas conversam, tomam café e, sentadas em mesas coletivas, trabalham. Este é apenas um entre os vários ambientes que compõem o escritório não territorial do grupo SEMCO, de São Paulo.
Ali também há uma sala de estar e um jardim-de-inverno, que são locais de trabalho bem agradáveis, diga-se de passagem. Sem falar das estações coletivas, onde trabalham até quatro pessoas de uma vez só – o único canto do andar térreo que guarda uma leve semelhança com um escritório convencional.
Tamanha inovação saiu da cabeça do empresário paulista Ricardo Semler, presidente do Grupo SEMCO, reconhecido dentro e fora do país por suas idéias arrojadas. O sistema não territorial começou a ser implantado no fim do ano passado e já conseguiu a adesão de 60 funcionários, mais da metade dos que podem participar nessa fase inicial de (des)instalação do escritório.
Isso mesmo, desse sistema "arejado" só participa quem quer, quem está disposto a abrir mão de um espaço fixo de trabalho. O funcionário que entra no esquema perde mesa, secretária, armários, telefone fixo. Em troca ganha a liberdade para escolher quando, onde e com quem quer dividir sua rotina.
Pode decidir por qualquer um dos ambientes disponíveis no prédio-sede. Pode, também, trabalhar num dos escritórios-pulmão que o grupo está espalhando pela cidade.
Atualmente, há dois em funcionamento na região da Avenida Paulista. Até 2002, serão quatro. E há ainda a tentadora opção de dar conta do recado em casa mesmo.


SEM VIGILÂNCIA

No sistema não territorial, nem se quiser um chefe da SEMCO vai conseguir vigiar os passos de sua equipe.
Primeiro porque a empresa já adota há 15 anos o horário flexível e não há mais uma carga de trabalho semanal preestabelecida. Segundo porque, para escolher seu território diário de trabalho, o funcionário não precisa dar satisfação para ninguém. Basta fazer uma reserva no site da empresa na Internet.
O site mostra um mapa das estações coletivas instaladas no térreo e no primeiro andar e as posições que estarão livres para o dia seguinte. A reserva também podem ser feita no próprio escritório, num terminal de Intranet instalado na recepção. A única regra é: não é permitido ocupar por dois dias consecutivos o mesmo lugar.
Nada impede, porém, que dois colegas sentem lado a lado por dias seguidos. "É o fim da hierarquia física e do controle", afirma Semler em uma entrevista para a revista Você S.A. "Nesse desenho, as pessoas trabalham de acordo com suas necessidades, seu ritmo, seu compromisso com os resultados."
Essa chacoalhada no esquema de trabalho parte da premissa de que, quanto menos controladas, mais responsáveis as pessoas se tornam. E, se precisar localizar alguém, o chefe tem três opções: ou manda um e-mail, ou tenta no celular da pessoa, ou levanta da cadeira e sai à procura do "sumido" num dos três pavimentos do prédio.


IGUAL PARA TODOS

Do diretor ao trainee, todos, sem exceção, podem migrar para o novo sistema – desde que a unidade à qual estejam vinculados tenha verba disponível para a compra de notebooks e celulares.
Semler acredita que a tendência de mudança é irreversível. Explica ele: "No máximo 10% das posições da empresa não se prestam a essa mobilidade. São aquelas funções ligadas à fábrica ou extremamente burocráticas. A questão hoje é que 80% das pessoas ainda acreditam que fazem parte desses 10%"
O primeiro escalão da SEMCO foi sutilmente intimado por Semler a tomar parte na mudança. Hoje 11 dos 13 diretores não têm mais mesa fixa.
O raciocínio é o seguinte: se o funcionário só precisa ir ao escritório se quiser (ou quando a equipe precisar), é de se esperar que, quando aparecer, aproveite e valorize ao máximo aquele momento.


AMBIENTE COLETIVO ESTIMULA A BOA CONVIVÊNCIA

Até o que pode parecer um ponto negativo do sistema, na prática, se transforma em vantagem para todo mundo. No antigo modelo de gestão da empresa, dificilmente um corretor de imóveis, por exemplo, teria contato no dia-a-dia com alguém do departamento pessoal.
Nas mesas do sistema não territorial, o contato acontece a todo instante. Diretores de uma área sentam-se ao lado de estagiários de outra. Gente recém-contratada divide o mesmo espaço com quem está prestes a completar 20 ou mais anos de casa.
Ao longo do mesmo dia, um profissional pode ter ao seu lado três, seis, nove ou seja lá quantos colegas diferentes dos mais variados setores.
Desse jeito, as pessoas têm a chance de saber mais sobre o trabalho dos companheiros e até de oferecer ajuda.
Nesse ambiente de alta mobilidade, acontecem coisas curiosas. Marcello Valente, recém-contratado para a unidade de processos, contou na entrevista para a revista Você S.A ., que estava acostumado a trabalhar numa sala só dele. Tinha um telefone próprio e realizava inúmeros negócios com clientes estrangeiros.
Os clientes, ele trouxe para a SEMCO, mas ainda não descobriu como se comportar num lugar onde todo mundo ouve o que todo mundo diz o tempo inteiro.
Houve uma situação em que precisou ligar para a Itália. A conversa esquentou e o tom de voz dele foi aumentando. "Ele falava e gesticulava ao mesmo tempo, com faria um italiano típico. Todo o andar térreo parou para acompanhar a negociação", conta Rogério Ottalia, o chefe de Marcello Valente. "Eu não tive nem tempo de ficar envergonhado, porque o pessoal já foi dando risada, inclusive meu chefe", conta.


A ÁRDUA BATALHA CONTRA A PAPELADA

Quem optou pelo sistema não territorial teve de vencer na marra a batalha contra a papelada, pois como não têm uma mesa fixa, os funcionários são obrigados a guardar apenas o necessário. É pouca coisa mesmo. Tem de caber numa pasta preta tipo follow-up e num arquivo sob rodas que acompanha os donos em suas andanças pelo escritório.
Quando não estão sendo usados, voltam para o armário coletivo, uma espécie de estacionamento das pastas e arquivos. Nas mesas de trabalho coletivas, o espaço particular é mínimo. Suficiente apenas para um telefone e um notebook.


HIERARQUIA? QUEM PRECISA DE HIERARQUIA?

O escritório não territorial da SEMCO é o ponto alto de um sistema que põe as relações de trabalho em xeque, mas que tem sido levado à prática por Ricardo Semler com coerência.
Herdeiro dos negócios do pai, ao longo de 20 anos ele deu vez e voz aos funcionários, que agora opinam até na escolha dos chefes. Autor do best-seller internacional "Virando a Própria Mesa", acredita que os negócios só cresceram porque houve espaço para as pessoas aproveitarem as oportunidades.
Hoje, o grupo é formado por oito empresas (a maioria no setor de serviços) e, no ano passado, faturou US$ 160 milhões.
Semler tem uma vaga idéia do que fazem os 13 executivos principais do grupo. Há 12 anos não interfere em nenhuma decisão nem assina cheque em nome da empresa. Semler tem escritório em casa e, se for o caso, dá palpites por e-mail. Recebe 150 por dia, 80% dos quais deleta sem ler. "Eu provoco as pessoas a se tronarem auto-suficientes".


HÁ QUEM NÃO GOSTE DA NOVIDADE

Como em todas as novidades, tem gente entre os veteranos da empresa que pensou em se arriscar na migração e voltou atrás. Marina Cury, gerente de negócios corporativos, é uma delas. Ela desistiu da idéia por causa do volume de papéis que consulta diariamente.
"Além disso, tenho uma equipe que realmente precisa estar junta, num esquema fixo, para funcionar", argumenta.
Para Ricardo Semler, discursos como esse são esperados, mas têm eco cada vez mais fraco. "Não podemos subestimar as pessoas. É preciso deixar claro o que se espera delas e acreditar que cada um saiba de suas responsabilidades. Se existem e-mail e celular, por que não tirar proveito disso?, questiona.
"A maioria já usa a parafernália para adiantar o trabalho no fim de semana. O que estou sugerindo agora é que usem o meio da semana para ir ao cinema."

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