sábado, 3 de dezembro de 2011

Dirigente: Brasil não tem mão de obra qualificada em gestão esportiva

Técnicos e ex-jogadores de vôlei tornaram-se alvo de cobiça do futebol brasileiro. Bebeto de Freitas virou diretor do Atlético Mineiro e presidiu o Botafogo. Renan Dal Zotto vem elevando a arrecadação do Figueirense com marketing. Na década de 1990, José Carlos Brunoro e José Roberto Guimarães sagraram-se campeões por Palmeiras e Corinthians, respectivamente. Bernardinho foi cogitado para trocar as quadras pelos gramados nos anos 2000.

O presidente da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Ary Graça, não escapou desse assédio. Mas garante que jamais aceitaria propostas para trabalhar com o principal esporte do País.

- Claro, dois clubes já me convidaram. Mas futebol realmente não dá. O grande bem é a paixão, e o grande mal é a paixão. Só tem passional, não tem profissional autêntico. Os conselheiros não se entendem, brigam entre si, é uma loucura - avaliou para Terra Magazine.

Ele conta que conselheiros botafoguenses o chamaram na década de 1980, apelando ao seu passado de atleta alvinegro. Recentemente, a investida partiu do Fluminense, seu clube do coração. Porém, Graça refuta qualquer hipótese boleira.

Na sua opinião, essa busca por cartolas tem uma explicação simples:
- Não há mão de obra qualificada em gestão esportiva. As pessoas não dão a menor importância, mas é fundamental - declarou num debate, no Museu do Futebol, em São Paulo, sexta-feira (18).

Ele atacou o amadorismo e cobrou modelos empresariais para o esporte nacional:
- Tem que acabar com dirigente voluntário. Não existe. Todos têm que ser profissionais e receberem por isso. Não pode o português, dono de padaria, ser presidente do Vasco. Vai gerir o clube como se fosse uma quitanda.

Desde 1997, Graça comanda a CBV, além de ter sido vice-presidente a partir de 1975. "Vocês veem que sou a favor do continuísmo", ironizou. "Entrei com uma cabeça de ex-banqueiro, pensando em dar dinheiro a longo prazo (para a entidade)".

Pelos cálculos de que dispõe, o esporte corresponde a 3,8% do Produto Interno Bruto brasileiro, ou seja, do total de riqueza gerada dentro do País. "Mais do que a área de finanças: seguradoras, bancos...", comparou o carioca de 68 anos.

Ele diz que a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 no Brasil tem provocado assédio a funcionários da CBV, com ofertas de salário triplicado. "São pessoas que eu treino há 14 anos", afirmou.

Também vice da Federação Internacional de Voleibol e presidente da Confederação Sul-Americana e da União Pan-Americana, Ary Graça considera muito bem preparada a equipe administrativa da CBV, mas lamenta um grande desnível no âmbito das federações estaduais. E destaca que árbitros e treinadores têm sido capacitados a distância pela entidade nacional.

Outra carência que ele expôs foi a de profissionais de psicologia do esporte. E exemplificou: "É difícil convencer o cara para não gastar o primeiro salário com um carrão. Os atletas vêm de classes sociais muito baixas".

FONTE: PORTAL TERRA

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