terça-feira, 1 de maio de 2012

Carta de um garoto para seu pai torcedor

"Pai, eu estou escrevendo esta carta porque como sou muito pequeno e as pessoas não ligam para as opiniões das crianças e pode ser que com uma carta eu possa me expressar sem ser criticado.

Os adultos não aceitam a opinião das crianças, principalmente quando estão nervosos por causa do jogo. As pessoas não olham as crianças como pessoas que têm direito de ter opiniões e que elas possam estar com razão naquilo que elas falam.

Quando os adultos não concordam com a gente, mesmo que a gente tenha razão, principalmente quando eles estão nervosos, nós é que sofremos as consequências e não temos como nos defender.

Nestas ocasiões somos obrigados a ficar calados e isto é o pior que pode acontecer para o nosso futuro.

Pode ser que quando você estiver calmo, possa ler esta cartinha e refletir sobre tudo que estou dizendo aqui e não brigar comigo.

Eu gosto muito de jogar futebol e eu quero ser um atleta de sucesso. Para isso eu conto principalmente com o seu apoio e ajuda.

Quando conseguimos vencer uma partida eu fico muito feliz, meus colegas e treinadores também, mas o que eu mas gosto é de ver você feliz.

Porém quando nós perdemos, eu quero que saibas que eu, meus colegas e treinadores, somos aqueles que mais sentem a derrota.

Preciso, nesta hora, do seu apoio e incentivo, mas nem sempre é assim, você reclama, grita, briga comigo e reclama dos meus companheiros e treinadores.

Pai, isso me deixa ainda mais arrasado porque você é a pessoa mais importante na minha vida e não quero vê-lo triste por minha causa, e culpar meus companheiros e treinadores, só piora as coisas para mim.

Vencer ou perder é consequência de uma série de fatores algumas vezes alheios à nossa vontade.

Eu preciso da sua ajuda para poder aceitar a derrota com dignidade e encontrar forças e confiança para poder vencer a próxima partida.

Pai, quando você fica do lado de fora tentando me dar instruções durante a partida, na realidade você me prejudica mais do que ajuda, pois eu preciso ajudar os meus companheiros no esquema táctico que foi combinado no vestiário e não consigo prestar atenção, ao mesmo tempo, no jogo, no meu treinador e em você.

Eu não quero ser um filho desobediente, mas como obedecer as suas ordens e a do treinador ao mesmo tempo?

Outra coisa, não fique triste caso eu faça algum gol e comemore antes com os meus companheiros que lutaram para que eu pudesse fazer o gol para o nosso time.

Quando você xinga o árbitro ou responde a torcida adversária, eu fico muito nervoso com medo que comece uma confusão e acabe em brigas.

Pai, quando um companheiro meu fizer alguma coisa de errado, não brigue com ele, porque eu também posso fazer a mesma coisa, pois estamos todos aprendendo, e você não gostaria que o pai dele me criticasse não é?

Substituição no futebol é sempre uma ação estratégica e temporária, por isso peço que não reclame e ofenda meu treinador porque ele tem um plano em mente e precisa alterar o plano a cada situação.

Muitas vezes o treinador substitui um atleta para que ele possa descansar um pouco, outras vezes pode ser porque naquele dia ele não está bem. Tenha certeza de que ele está tentando fazer o melhor para a nossa equipe, e a interferência dos pais só nos prejudica emocionalmente.

Pai, eu te amo muito, me ajude a ser um bom atleta atendendo aos poucos e simples pedidos que aqui eu faço a você, pois prefiro desistir do futebol a ver você envolvido em brigas com outras pessoas.

Quero que você tenha orgulho de mim, tanto na vitória quanto na derrota, pois nós tentamos fazer a nossa parte com dedicação.

Com amor, seu filho Júnior."

P.S. Este menino que escreveu esta carta desistiu do futebol.

Comentário do Blog: Este texto foi bastante comentado e elogiado pelos leitores do blog. Vale a pena a leitura.

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