quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Botafogo em minha vida, por Marcelo Adnet

Nasci botafoguense. Botafoguense puro - de mãe e pai. Meu pai sempre disse "meu filho pode ser tudo: viado, ladrão, mas vai ter que ser botafoguense". Dito e feito. Só falta eu ser ladrão. Brincadeirinha.

Além dos meus pais, meu tio e meu avô maternos também eram botafoguenses. Meu pai é músico e mamãe é figurinista e dona de casa. Os dois gente boníssima! Cresci, então, com aquela noção de que botafoguenses são poucos e muito honrados - uma família mesmo.

Lembro-me de 89, uma noite especial - 21 de julho, 21 graus, 12 minutos, 21 anos depois, Maurício, camisa 7 faz o gol do título, da libertação. Naquele dia entendi o que era ser botafoguense. Foi uma festa e tanto. Ano seguinte, bicampeões do Estado, 92 finalista do brasileiro, 93 campeões da Conmebol com o Sinval as defesas do William Bacana. Foi uma noite emocionante no Maraca. Mas ainda faltava o principal - a chegada do fanfarrão Túlio Maravilha, a conquista do Título do Brasileiro de 95 e a noção trazida por Túlio de que, apesar de ser humilde e calejado, o botafoguense podia ter sua dose de fanfarronice e deboche. Estava decretado. Veio o carioca de 97 e o RJ-SP de 98, para vir, em seguida, um período chato pra nós. Depois da euforia 89-98, tivemos que provar de novo nossas forças. Adoro isso no botafoguense - sua força, sua persistência, nos piores momentos do time. Acredito que nos fortalecemos e botamos nossa paixão à prova nas crises. Pra que sofrer, como sofremos com a queda pra Série B em 2003? Porque amamos, incondicionalmente, só por isso.

Mas, dos momentos mais memoráveis pra mim nesses 28 anos acompanhando o Botafogo, foram as inúmeras idas de van ou de "996" até Niterói para acompanhar os sucessos do Fogão nesta campanha vice-campeã. Lembro do surgimento da Fúria Jovem e da companhia de Rafael Queiroga e até do vascaíno Mateus Solano, que foi tirar uma casquinha da nossa diversão naquela nova torcida que gritava barbaridades a pouquíssimos metros do gol. Valeu, voltamos. Acreditamos no Bebeto, na nova fase e veio mais uma prova. Quem são os malucos que resistiriam, depois do título de 2006, a encardida sequência tri-vice para o time do mau caminho? Nós, só nós mesmos. Sabíamos que merecíamos, que o Dodô não tava impedido, que nosso time era melhor. Dois mil e dez veio pra nos redimir, campeões dos dois turnos, eliminando o Fla duas vezes. A cavadinha insana de El Loco Abreu nos libertou da condição de vice e fez um ano ter o peso de três com uma vitória final tão maiúscula. Ficou de pé, intacto, o Império do Bem, de gente que sabe que muito mais importante que vencer é ter ética e cultivar o imenso amor que cultivamos por nosso time.

Os tempos passaram e, nesses 28 anos de vida tenho uma certeza - o Botafogo cresceu, muito, nesses anos que tenho de vida. Vi meu amor crescer, ganhar força, passar por uma reconstrução necessária, recuperar a sede de General Severiano, sair do jejum de 21 anos e, nos outros 21 (entre 89 e 2010) ganhar 5 estaduais, seu primeiro Nacional, uma Conmebol, um Rio -São Paulo. Hoje estamos bem no Brasileiro, com estrutura, um bom time, um presidente honesto e eu? Bem, eu, após aturar a "Fla Press" por anos, tenho minha própria coluna no Jornal O Globo, onde represento a todos nós botafoguenses num dos maiores jornais do país. Além disso, fiz algumas campanhas pro Botafogo, como a do Sócio Torcedor e a da volta do Maicosuel. Tudo de graça, claro. Espero que o nosso Botafogo cresça, junto de todos nós, como um exemplo de esporte, mas também de cidadania, caráter e amor! E ninguém cala!

Marcelo Adnet, ator, comediante e apresentador de televisão, escreveu este texto a pedido do Clube dos 13.

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